No vídeo deve vir a identificação do aluno, o título do poema e o nome do seu autor.
Podem inspirar-se nos vídeos publicados aqui recentemente. Peçam ajuda, se for possível, a alguém do vosso agregado familiar. Era bonito de se ver, aproximação, partilha, ajuda em tempo de isolamento! Que não pode nem deve ser tempo de solidão! Porque precisamos sempre uns dos outros!
O envio do vídeo deve ser feito para o email da Biblioteca Escolar: olaiasbiblioteca@gmail.com
Desafio aceite?
Conquista
Livre
não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'
As
Palavras
São
como um cristal,
as
palavras.
Algumas,
um punhal,
um
incêndio.
Outras,
orvalho
apenas.
Secretas
vêm, cheias de memória.
Inseguras
navegam:
barcos
ou beijos,
as
águas estremecem.
Desamparadas,
inocentes,
leves.
Tecidas
são de luz
e
são a noite.
E
mesmo pálidas
verdes
paraísos lembram ainda.
Quem
as escuta? Quem
as
recolhe, assim,
cruéis,
desfeitas,
nas
suas conchas puras?
Eugénio de Andrade, Antologia
Breve, 1972
De que Serve a Bondade
1
De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
2
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
2
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
DA MINHA ALDEIA
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Alberto Caeiro
A
nêspera
Era
uma vez uma nêspera
que
estava parada, calada
sentada
à beira da estrada
a
ver o que acontecia.
Veio
uma velha e disse:
Olha
uma nêspera!
E
zás, comeu-a.
É
o que acontece às nêsperas
que
ficam paradas, caladas,
sentadas
à beira da estrada
a
ver o que acontece.
Mário-Henrique Leiria
Tudo
ao contrário
O
menino do contra
queria
tudo ao contrário:
deitava
os fatos na cama
e
dormia no armário.
Das
cascas dos ovos
fazia
uma omelete;
para
tomar banho
usava
a retrete.
Andava,
corria
de
pernas para o ar;
se
estava contente,
punha-se
a chorar.
Molhava-se
ao sol,
secava
na chuva
e
em cada pé
usava
uma luva.
Escrevia
no lápis
com
um papel;
achava
salgado
o
sabor do mel.
No
dia dos anos
teve
dois presentes:
um
pente com velas
e
um bolo com dentes.
Luísa Ducla Soares
As mãos
Com mãos se
faz a paz se faz a guerra.
Com mãos
tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se
faz o poema – e são de terra.
Com mãos se
faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se
rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de
pedras estas casas mas
de mãos. E
estão no fruto e na palavra
as mãos que
são o canto e são as armas.
E cravam-se
no Tempo como farpas
as mãos que
vês nas coisas transformadas.
Folhas que
vão no vento: verdes harpas.
De mãos é
cada flor cada cidade.
Ninguém pode
vencer estas espadas:
nas tuas
mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
Liberdade
Sobre
esta página escrevo
teu
nome que no peito trago escrito
laranja
verde limão
amargo
e doce o teu nome.
Sobre
esta página escrevo
o
teu nome de muitos nomes feito água e fogo lenha vento
primavera
pátria exílio.
Teu
nome onde exilado habito e canto mais do que nome: navio
onde
já fui marinheiro
naufragado
no teu nome.
Sobre
esta página escrevo o teu nome: tempestade.
E
mais do que nome: sangue. Amor e morte. Navio.
Esta
chama ateada no meu peito
por
quem morro por quem vivo este nome rosa
e cardo
por
quem livre sou cativo.
Sobre
esta página escrevo o
teu
nome: liberdade.
Manuel Alegre, A Praça da Canção
Regresso
E contudo
perdendo-te encontraste.
E nem deuses
nem monstros nem tiranos
te puderam
deter. A mim os oceanos.
E foste. E
aproximaste.
Antes de ti
o mar era mistério.
Tu mostraste
que o mar era só mar.
Maior do que
qualquer império
foi a
aventura de partir e de chegar.
Mas já no
mar quem fomos é estrangeiro
e já em
Portugal estrangeiros somos.
Se em cada
um de nós há ainda um marinheiro
vamos achar
em Portugal quem nunca fomos.
De Calicute
até Lisboa sobre o sal
e o Tempo.
Porque é tempo de voltar
e de
voltando achar em Portugal
esse país
que se perdeu de mar em mar.
Manuel
Alegre, A Praça da Canção
AS PALAVRAS
Palavras
tantas vezes perseguidas
palavras
tantas vezes violadas
que não
sabem cantar ajoelhadas
que não se
rendem mesmo se feridas.
Palavras
tantas vezes proibidas
e no entanto
as únicas espadas
que ferem
sempre mesmo se quebradas
vencedoras
ainda que vencidas.
Palavras por
quem eu já fui cativo
na língua de
Camões vos querem escravas
palavras com
que canto e onde estou vivo.
Mas se tudo
nos levam isto nos resta:
estamos de
pé dentro de vós palavras.
Nem outra
glória há maior do que esta.
Manuel
Alegre, A Praça da Canção
Letra Para Um Hino
É possível
falar sem um nó na garganta
É possível
amar sem que venham proibir
É possível
correr sem que seja a fugir.
Se tens
vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível
andar sem olhar para o chão
É possível
viver sem que seja de rastos.
Os teus
olhos nasceram para olhar os astros.
Se te
apetecer dizer não grita comigo: Não.
É possível
viver de outro modo.
É possível
transformares em arma a tua mão.
É possível o
amor. É possível o pão.
É possível
viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te
domem.
É possível
viver sem fingir que se vive.
É possível
ser homem.
É possível
ser livre livre livre.
Manuel Alegre, O canto e as armas
Tempo de Poesia
Todo o tempo é de poesia
Desde a névoa da manhã
à névoa do outo dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia
Todo o tempo é de poesia
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qua amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.
António Gedeão
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão, In Movimento Perpétuo, 1956
Amor é um Fogo que Arde sem se Ver
Amor
é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
Não Posso Adiar o Amor
Não
posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o rneu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o rneu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"
Amar!
Eu
quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar... Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar... Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
Terror de Te Amar
Terror
de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Obra Poética”
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Obra Poética”
As Sem Razões do Amor
Eu
te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade, in 'O Corpo'
A Mulher Mais Bonita do Mundo
estás
tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
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