quinta-feira, 19 de março de 2020

Em tempos de crise, em qualquer tempo, comunicar é preciso!

Há 4 anos que não publico neste blogue. Por muitas razões: porque o tempo foi sempre pouco, porque o blogue não se tornou um hábito - viral? -, porque houve outras prioridades...Hoje, a partir de casa, vou tentar o seu renascimento, certamente que não pelas melhores razões. Mas há sempre um tempo para tudo. Há alguém aí? Alguém vai ler? Até ao fim? Se isso não acontecer, já é um bom exercício. E como o título lembra outras necessidades- e porque a música e a poesia são vitais - deixo-vos poemas e canções.

Navegar é preciso
Fernando Pessoa


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso."

Quero para mim o espírito desta frase, transformada
A forma para a casar com o que eu sou: Viver não
É necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso
Tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso
Tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho
Na essência anímica do meu sangue o propósito
Impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Em 1969,  cantando a coragem navegante, Caetano Veloso escreveu Os Argonautas, utilizando como mote principal a estrofe  “Navegar é preciso, viver não é preciso” . Aqui fica o link para uma das versões:


Ouçam! 


Os Argonautas

Caetano Veloso

O Barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...

Navegar é preciso
Viver não é preciso...

O Barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...

Navegar é preciso
Viver não é preciso

O Barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...

Navegar é preciso
Viver não é preciso...

E esta letra me lembra outra, de Chico Buarque, e outra canção:


e uma explicação para as duas versões, pelo próprio:


Tanto mar
Chico Buarque

Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim”

Tanto Mar, na segunda versão

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
N’algum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, como é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim”


E uma canção que me acompanhou em tantas viagens de carro, com a família, ouvida e cantada, tantos anos...As canções também são memórias! Esta é muito boa ! Ouçam-na, cantem-na, dancem-na, sós ou acompanhados... Homenageiem Fausto, o amor, a conquista, o que quiserem...mas vivam e continuem a navegar!




Navegar, navegar
Navegar navegar
Mas ó minha cana verde
Mergulhar no teu corpo
Entre quatro paredes
Dar-te um beijo e ficar
Ir ao fundo e voltar
Ó minha cana verde
Navegar navegar
Quem conquista sempre rouba
Quem cobiça nunca dá
Quem oprime tiraniza
Naufraga mil vezes
Bonita eu sei lá
Já vou de grilhões nos pés
Já vou de algemas nas mãos
De colares ao pescoço
Perdido e achado
Vendido em leilão
Eu já fui a mercadoria
Lá na praça do Mocá
Quase às avé-marias
Nos abismos do mar
Navegar navegar...
Já é tempo de partir
Adeus morenas de Goa
Já é tempo de voltar
Tenho saudades tuas
Meu amor
De Lisboa
Antes que chegue a noite
Que vem do cabo do mundo
Tirar vidas à sorte
Do fraco e do forte
Do cimo e do fundo
Trago um jeito bailarino
Que apesar de tudo baila
No meu olhar peregrino
Nos abismos do mar
 


2 comentários:

VC disse...

Viva, Margarida!

Só os poetas têm as palavras certas para todas as situações!

Realmente "Navegar é preciso!" E nós cá estamos, como sempre, a empurrar o barco, ou melhor, a tentar manter o barco à superfície.

Obrigada.
Vitória M.

Unknown disse...

Naveguemos!