sexta-feira, 27 de março de 2020

7 dias, 7 actores, 7 Poemas

O poema de hoje, de António Botto, foi No chafariz de dentro, assim declamado:
https://www.youtube.com/watch?v=Y7b8qajU9r
E são estas as palavras:


São duas horas da noite.

Ao fundo, pelo Terreiro do Trigo

O último carro segue em rápido andamento…

Ao pé de mim,

aqui no Chafariz de Dentro

a água bate caindo no tanque largo de granito mal acabado

Só a aragem modifica – de vez em quando,

a monótona cantiga da água

neste velho chafariz.

Chamar-lhe cantiga talvez não seja o que eu quis;

Mas como tudo na vida obedece a um preconceito

- E isso é que a torna imoral!

chamar-lhe-ei, pois, cantiga,

uma cantiga molhada, numa expressão sempre igual.

Ali, no Beco dos Aguadeiros,

dois vultos num portal chamaram docemente o meu olhar.

Tentei aproximar-me.

“ O teu ciúme não tem razão de ser, é um disparate!”

Estas palavras ficaram suspensas no ar…

Retrocedi, parei e ouvi chorar
 

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